domingo, 16 de novembro de 2008

Não é problema meu!

“Quem sabe, faz. Quem não sabe, ensina!” – disse revoltado para si, enquanto passava a marcha do carro de primeira para segunda...primeira, segunda, primeira... malditos grevistas! E esse trânsito infernal. Estava exausto! Gente de bem não tinha sequer o direito de voltar para casa com tranqüilidade após um dia duro de trabalho. Que culpa ele tinha dos salários dos professores? E isso era razão para tanta baderna? Era o fim da picada. Se estavam tão insatisfeitos, por que não pediam demissão? Por que não encontravam empregos de verdade? Já não sabiam que seria assim quando escolheram ser professores? Ora essa, se quiseram ser professores, então deveriam saber que o salário seria de fome. Mas, claro, provavelmente não tiveram capacidade para ser algo melhor.

Com ele era diferente. Sempre batalhou pelo que quis. Fez faculdade séria, curso sério. Sempre soube o que era importante. Carreira de respeito, dinheiro para dar à família a mesma vida de conforto que seus pais lhe proporcionaram. Carro com ar-condicionado e airbag duplo, casa própria num bairro “de gente honesta”, viagens à Disney com as crianças. Tudo adquirido com muito suor. Ele fez por merecer. Toda a sua vida, ele fez por merecer.


Chovia lá fora e aquele mundaréu de gente não arredava o pé de lá. Rostos maltratados, desgrenhados, indignados. Ele não entendia o porquê. Não queria entender, nem precisava entender. Fechou os olhos por um instante e tentou abstrair toda aquela revolta interna. Era o estresse, só isso. Em breve, chegaria em casa, relaxaria com um banho longo e então ligaria a TV, sintonizada no Jornal das Pessoas de Bem, que traria a cobertura da greve e de todos os transtornos causados por aquela gente desocupada. Lamentável, coisa típica de terceiro mundo. “É por isso que esse país não vai para frente!”, exclamou bem alto a máxima das pessoas de bem. Gente reivindicando direitos, lutando pela educação, era mesmo o cúmulo...

3 comentários:

Raphael Aguirra disse...

Tsc, tsc, tsc... É sempre assim! Todos pensam a mesma coisa! Se não deixarmos claros os nossos DIREITOS, não os temos atendidos! E isso porque são direitos, que dirá maiores benefícios ou vantagens!

A classe média parece que se fecha numa bolha, como se eles se bastassem na sociedade...

ythais disse...

esse post me lembra: mais de 20 anos de ditadura militar, "era mesmo o cúmulo", a marcha da família com deus pela liberdade, e por aí vai... alguém realmente acredita que a Democracia no Brasil está consolidada?

Anônimo disse...

é, "trabalho sério" pro tecnocrata de país pobre é ensinar coisas maquinais e estúpidas como operar computadores ou bolsas de valores e manter a roda do sistema girando...

mas quem manda no mundo são os países que têm o maior índice de educação pública e fundamental e cujos professores ganham os mais altos salários e respeito...

esquisito, não?