terça-feira, 18 de novembro de 2008
Uma espécie, dois gêneros: uma questão de bom senso?
O que você vê nessa imagem?
Um homem?
Uma mulher?
Ou nenhuma dessas alternativas?
Até onde as categorias de gênero que nos são ensinadas desde que nascemos fazem sentido?
Antes mesmo de nascermos nosso gênero já está definido. É menino ou menina. E quais são as consequências disso?
Eu sempre me dei conta de que era mulher. Às vezes me negava a fazer coisas porque era mulher. Meu irmão tinha coleção de carrinhos, e eu de chuquinhas. Meu irmão colecionava moedas e eu colecionava roupas de Barbie. Meu irmão não exercia função nenhuma dentro de casa. A função dele era chegar em casa cansado, comer e dormir. A gente não, eu e minha irmã, a gente aprendeu a lavar louça, cuidar da casa, cozinhar...
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15/11/2008
Querido Diário,
Hoje foi um dia corrido, como sempre. Minha meta é vender, porque senão chega o fim do mês e a minha comissão não paga meu aluguel. Meu chefe me pediu para atualizar uns preços no sistema, e fiquei pelo menos uns 20 minutos de costas para o balcão. De repente, uma voz de mulher me chama. "Qual o preço dessa palheta?" Me virei atordoada, e a moça, sorrindo, segurava a mão de um menino de cerca de 3 anos de idade. Foi aí que reparei. Na sua outra mão o menino segurava firme uma bonequinha de vestido e cabelo rosa. Não resisti - "Que fofo!". Ela então me contou que tinha ido ao McDonald's no dia anterior e o filho começou a chorar porque queria todas as bonequinhas do McLanche Feliz. O marido, indignado e com vergonha, pediu que o filho trocasse as bonecas por um caminhão de brinquedo. O filho começou a berrar, porque não queria o caminhão, e sim as bonequinhas. O pai cedeu. Em parte. Porque comprou também o caminhão para o filho. O menino sou eu também, penso. Eu também fiz a escolha errada. Toda vez que chega um cliente no balcão, ele olha primeiro ao redor e por último para mim, como se se perguntasse: o que faz uma mulher vendendo acessórios para guitarra aqui na Teodoro Sampaio? E sempre me pergunta, desconfiado: "Mas você sabe tocar?"
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Você acha que a diferenciação entre papéis masculinos e femininos em nossa sociedade é uma questão de bom senso?
Eu acho que o bom senso nessa hora vem como você lida com o papel que você exerce na sociedade. Não há mais diferença entre papéis femininos e masculinos.
E você, caro leitor ou leitora? Acha que essa diferença não existe mais? Se você tivesse um filho hoje, você daria a ele bonequinhas? E se fosse uma filha? Daria a ela carrinhos?
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4 comentários:
Nascemos em determinada sociedade que, queiramos ou não, tem suas crenças e preconceitos. Impossível ficar 100% alheio a eles.
Então, teoricamente, digo 'ah, se meu filho quisesse uma boneca eu daria sem problemas'. Será mesmo?! Tudo parece ser muito fácil, quando acontece no vizinho! Não por puro preconceito, mas porque crescemos e aprendemos isso é certo, isso é errado, isso é de menino, isso é de menina.
Acho que a discussão é muito complexa, difícil responder 'sim' ou 'não' de repente.
Acredito que se deve ser coerente e ético, fugindo ao máximo dos preconceitos. Agora, ser 100% isento ao mundo que nos cerca e ter "idéias próprias" o tempo todo é, para mim, impossível.
Parabéns pelo blog!
Mônica
Oq é um homem? e o que é uma mulher mesmo ??? rsrs !!! Somos quem podemos ser isso basta ... A escolha e vc quem faz ! e cada um sabe como suportar suas escolhas , mesmo que isso cause um certo transtorno pra alguém! ...Rsrsr mais eu ainda nem acredito que isso exista ... Mando bem dree ...
Concordo com a moniquilda: é impossível ficar 100% alheio aos preconceitos que se instalaram desde séculos na sociedade em que vivemos. São idéias tão arraigadas dentro de nós que mesmo que tentemos anulá-las, elas vêm inconscientemente à tona, e o cérebro, sozinho, realiza sinapses chegando a conclusões de "isso é errado, isso é certo". NÃO, NÃO ACHO ISSO! Mas o cérebro já foi condicionado... Ow, shit! Há tantas situações vistas como anormais, que, no entanto, são naturais! Contraditório? Tudo o que é natural é normal? Pois é. E muitos dos padrões de normalidade e naturalidade se devem à influência arcaica das religiões, que impuseram referências de CERTO e ERRADO, de NORMAL e ANORMAL... Isso foi há tanto tempo, e influenciou de tal modo a sociedade humana que, apesar dos avanços da ciência e das tecnologias, do pensamento e da filosofia, parece um processo muito lento esse tal de descondicionamento cerebral...
Seria possível? Melhor mesmo é deixar as sinapses pra lá e pensar com o consciente, que me parece mais atualizado... e bora educar os mais novos para um amanhã diferente (diferente = mais justo?)...
"Não há mais diferença entre papéis masculinos e femininos"?!?
Pelamordedeus! Eu sinto que eles ainda existem com todas as forças, todos os dias!
É óbvio que o corpo influencia em nossas vidas. É ululante que uma mulher sofre, por exemplo, alterações hormonais que o homem não e vice-versa. A Natureza atribui papéis biológicos e negá-los é voltar à época estúpida em que se dividia e se opunha mente e corpo, como se a existência das coisas pudesse ser dividida! Sou mulher de corpo, independente da minha alma e vontade, e isso influencia na minha alma e vontade e vice-versa. Não há um indivíduo igual ao outro tanto física quanto emocional, psicologicamente e etc.
Como diz a maravilhosa Paglia, se a mulher atual acha que vive seus relacionamentos sem influência biológica, ela é uma completa retardada. Igualdade entre os sexos não é forçá-los a escolher um lado só, e sim aceitar os dois como são. Se estou de cólica quando menstruada, vou arrancar a cabeça do primeiro que passar e disser que homens e mulheres são iguais!
Por outro lado, é claro que não somos APENAS biológicos. Há também um papel social atribuído a cada sexo que varia em época e cultura. E o que acontece hoje, na minha opinião, é o que eu sinto todo dia: não posso deixar nada na mão de um homem, porque ele vai esquecer ou não vai fazer direito.
Acredito que é conveniente ao sistema mostrar a mulher esgotada e obcecada com plásticas de hoje em dia fingindo que a desigualdade sexual chegou ao fim, isso sim. Que atire a primeira pedra quem não está cansada!
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